É praticamente impossível saber quantas versões existem ou quantos artistas já a gravaram ou, ao menos, cantaram em algum show. Mas, sem dúvida alguma, não existe música brasileira mais conhecida mundo afora do que “Garota de Ipanema”. Afinal, diz a lenda, só “Yesterday”, dos Beatles, seria mais tocada do que ela.
Tudo começou quando Tom Jobim pediu ao amigo Vinicius de Moraes que fizesse a letra para uma música que ele havia composto. O poeta então se inspirou em Helô Pinheiro, uma moça de 18 anos que os dois sempre encontravam comprando cigarros para os pais ou simplesmente passando em frente ao Bar Veloso (que mais tarde foi rebatizado com o nome da música), na antiga Rua Montenegro (hoje Rua Vinicius de Moraes), em Ipanema, onde passavam horas bebendo uísque.
E assim, em 2 de agosto de 1962, os dois amigos e parceiros, acompanhados por João Gilberto, pelo baterista Milton Banana e pelo contrabaixista Otávio Bailly, apresentaram pela primeira vez “Garota de Ipanema” em um show chamado “Encontro”, no Au Bon Gourmet. Em tom de brincadeira, Tom, Vinicius e João introduziram a música cantarolando o seguinte diálogo:
João Gilberto – “Tom e se você fizesse agora uma canção? Que possa nos dizer, contar o que é o amor...”
Tom Jobim – “Olha, Joãozinho... eu não saberia sem o Vinicius para fazer a poesia...”
Vinicius de Moraes – “Para essa canção se realizar, quem dera o João para cantar...”
João Gilberto – “Ah, mas quem sou eu? Eu sou mais vocês. Melhor se nós cantássemos os três!”
A partir daí, a história da música brasileira nunca mais seria a mesma. A canção que ajudou a bossa nova a se tornar um sucesso mundial ganhou uma versão em inglês, premiada com um Grammy, e foi incluída no repertório de artistas consagrados, começando por Frank Sinatra, que telefonou para Jobim e o convidou para gravar um dueto. Mais de 50 anos depois, a “Garota de Ipanema” continua circulando em vários idiomas, sendo usada em trilhas de filmes, séries de TV e desenhos animados e se mantendo no posto de mais famosa embaixatriz brasileira pelo mundo.
Astrud Gilberto e Stan Getz – Durante uma sessão em um estúdio em Nova York, ainda em 1963, Tom Jobim e João Gilberto, acompanhados pelo saxofonista de jazz Stan Getz, tiveram a ideia de gravar uma versão em inglês da música. Apesar de não ser uma cantora profissional na época, a então mulher de João, Astrud, era fluente no idioma e gravou os vocais, que foram considerados perfeitos pelos músicos. A versão, que ganhou um Grammy, se tornou a mais conhecida mundialmente e Astrud chegou a aparecer cantando a música no filme “Get yourself a college girl”, de 1964.
Pery Ribeiro – Embora já a tocassem desde agosto de 1962, Tom Jobim e Vinicius de Moraes não foram os primeiros a gravar “Garota de Ipanema”. O primeiro cantor a registrar a música em estúdio foi Pery Ribeiro, em janeiro de 1963, como uma das faixas de seu segundo disco, “Pery é todo bossa”.
Frank Sinatra e Tom Jobim – Depois do Grammy, a música se tornou um sucesso ainda maior e ganhou versões de intérpretes consagrados. Uma das mais célebres foi o dueto, em inglês e português, que se tornou a faixa de abertura de “Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim”, álbum que a dupla lançou em 1967 e foi indicado ao Grammy, na categoria disco do ano, em 1968. “The girl from Ipanema” se tornou tão importante na carreira de Sinatra que continuou no repertório do cantor pelo resto de sua vida, sendo incluída em praticamente todas as suas coletâneas e edições especiais.
Tom Jobim e Vinicius de Moraes – Em 1978, após o estrondoso sucesso de uma temporada no Rio de Janeiro, a dupla levou à Europa o show que fazia ao lado de Toquinho e Miúcha. Em um vídeo dessa turnê, gravado na Itália, ao final da música Vinicius fala em italiano sobre sua musa inspiradora. “Ela tinha 18 anos, a garota de Ipanema, tão bela, tão simpática. Lembra, Tom? Quando passava na frente do bar, tomávamos um aperitivo. Todos os copos já estavam vazios. Nós a acompanhávamos até o mar...”, recorda.
Ella Fitzgerald – Outra artista consagrada a se apaixonar pela música foi a cantora de jazz, que brincou com o título e transformou a garota em garoto. Um show em São Paulo em 1971, no qual foi acompanhada pelo pianista Tommy Flanagan, foi uma das ocasiões em que Ella cantou “The boy from Ipanema”.
Fonte: G1
Por Gutemberg Stolze - Imprensananet.com