Presos ao chegar no Brasil, o casal estava na República Dominicana trabalhando em uma campanha eleitoral e se entregou à Polícia Federal (PF) ao desembarcar no Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos. Eles tiveram a prisão temporária expedida e o prazo vence no sábado (27). O mandado pode ser prorrogado por mais cinco dias ou, caso achem necessário, as autoridades também poderão solicitar a conversão da prisão para preventiva, quando não há prazo para que o investigado deixe a carceragem.
Bilhete escrito pela esposa de João Santana sobre dados de contas bancárias (Foto: Reprodução)
O marqueteiro do Partido dos Trabalhadores (PT) João Santana e esposa dele, Monica Moura, que são alvos da 23ª fase da Operação Lava Jato, chegaram ao Aeroporto Internacional Afonso Pena, em São José dos Pinhais, na Grande Curitiba, às 11h35 desta terça-feira (23). De lá, eles seguirão sob escolta policial até a Superintendência da PF, que concentra vários presos da operação, no bairro Santa Cândida. Por volta das 15h, a dupla vai se juntar aos outros detidos na atual fase para fazer o exame de corpo de delito, que é praxe após a prisão.
Esta etapa da Lava Jato é chamada de Operação Acarajé, que era o nome usado pelos suspeitos para se referirem ao dinheiro irregular. A PF suspeita que os recursos tenham origem no esquema de corrupção na Petrobras investigado na Operação Lava Jato. Uma das principais linhas de investigação são os repasses feitos pela empreiteira Odebrescht, um dos alvos da Lava Jato, ao marqueteiro João Santana.
Segundo relatório da PF, João e a esposa ocultaram das autoridades os recursos recebidos no exterior porque tinham conhecimento da "origem espúria" deles.
Esse dinheiro foi escondido, conforme o relatório, mediante fraudes e "com a finalidade exclusiva de esconder a origem criminosa dos valores, que, como se viu, provinham da corrupção instituída e enraizada na Petrobras".
A suspeita é de que, usando uma conta secreta no exterior, o publicitário teria recebido dinheiro da Odebrecht e do engenheiro Zwi Skornicki, representante oficial no Brasil do estaleiro Keppel Fels, segundo o Ministério Público Federal (MPF). De acordo com as investigações, Santana recebeu US$ 7,5 milhões em contas no exterior.
Desse total, US$ 3 milhões teriam sido pagos de offshores ligadas à Odebrecht , entre 2012 e 2013, e US$ 4,5 milhões do engenheiro Zwi Skornicki, entre 2013 e 2014. O engenheiro também foi preso na 23ª fase. Ele é apontado como operador do esquema.
Nesta segunda (22), o juiz federal Sérgio Mouro pediu o bloqueio de R$ 25 milhões de João Santana e de R$ 25 milhões de Mônica Moura.
A defesa do marqueteiro João Santana, representada pelo advogado Fábio Tofic, afirmou na noite desta segunda-feira ao Jornal Nacional que todos recursos em contas do exterior do marqueteiro provêm, exclusivamente, de campanhas feitas em outros países. Segundo a defesa, "nenhum centavo" é de campanha brasileira.
Marqueteiro do PT
O publicitário foi marqueteiro das campanhas da presidente Dilma Rousseff e da campanha da reeleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006. Investigadores suspeitam que ele foi pago, por serviços prestados ao Partido dos Trabalhadores (PT), com propina oriunda de contratos da Petrobras.
Carta indicava caminhos para fazer pagamentos
Segundo o delegado PF Filipe Pace, os fatos relevados na 23ª fase da Lava Lato surgiram de materiais apreendidos na 9ª etapa da operação. Entre eles, estava uma carta de Monica Santana, mulher e sócia de João Santana na Pólis Propaganda & Marketing, endereçada ao engenheiro Zwi Skornicki. Nela, havia um contrato entre a offshore Shellbill, que tem sede no Panamá e a PF acredita ser de Monica, e a Innovation, ligada à Odebrecht.
A carta indicava caminhos para fazer pagamentos. Havia números de contas do Citibank em Nova York e em Londres, que, na verdade, correspondiam a uma conta na Suíça. O banco permitia operações em dólar e euro por meio de contas conveniadas nos Estados Unidos e no Reino Unido. "O dinheiro foi depositado através dessas contas correspondentes, mas o beneficiário final foi a sua conta na Suiça", disse Filipe Pace.
A PF suspeita que Santana comprou um apartamento de R$ 3 milhões em São Paulo com o dinheiro que recebeu da Odebrecht.
Patrimônio de marqueteiro do PT salta de R$ 1 milhão para R$ 59 milhões em 10 anos
A Receita Federal constatou um espetacular salto patrimonial do publicitário João Santana --marqueteiro do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente Dilma Rousseff que teve prisão temporária decretada nesta segunda-feira (22) na Operação Acarajé, 23ª etapa da lava Jato. O acréscimo verificado pelo Escritório de Pesquisa e Investigação da 9ª Região Fiscal da Receita mostra que Santana saiu de um ativo de R$ 1.009 milhão, em 2004, para R$ 59,12 milhões, em 2014.
A mesma unidade da Receita indica que a mulher e sócia do marqueteiro, Mônica Regina Cunha Moura, também viveu uma fase auspiciosa nos últimos anos a contribuinte teve um acréscimo patrimonial de R$ 56,5 mil em 2004 para R$ 19,48 milhões em 2014, "suportados, a partir de 2010, exclusivamente dos lucros e dividendos recebidos pelas suas empresas de publicidade".
Os dados apurados pela Receita constam de relatório da Polícia Federal no âmbito da Acarajé.
A PF sustenta que "há forte probabilidade de que a destinação, de maneira oculta e dissimulada, de recursos espúrios da corrupção na Petrobras aos dois [João Santana e Mônica] no exterior possui vinculação direta aos serviços por eles desempenhados em favor do Partido dos Trabalhadores".
A análise do resultado da quebra de sigilo bancário de João Santana e de sua mulher demonstrou que ambos são primordialmente remunerados pelos serviços prestados em campanhas do Partido dos Trabalhadores.
Empresas dos publicitários, notadamente a Polis Propaganda e Marketing e Santana Associados Marketing e Propaganda receberam, no período entre 29 de setembro de 2004 e 30 de julho de 2015, R$ 193,9 milhões por serviços ao PT.
Ontem, João Santana afirmou que as acusações contra ele são "infundadas", mas que não está surpreso com o mandato de prisão temporária contra ele e que o Brasil vive "um clima de perseguição".
Por Gutemberg Stolze - Imprensananet.com